Somos quase que diariamente bombardeados com notícias e textos declarando a desigualdade social como o grande problema do Brasil e do mundo (até o Papa já entrou na onda!). Causa certa estranheza, no entanto, que seja a desigualdade, e não a pobreza em si, o que incomoda tanto a tantos. Reina absoluto em parte importante da opinião pública uma espécie de fetiche quanto a uma utopia de “igualdade social” que só poderia ser alcançada por meio de políticas de “redistribuição de renda” que, como o próprio nome diz, serviriam para corrigir uma distribuição ocorrida previamente – no caso, aquela resultante das trocas voluntárias no mercado.
Tal solução é problemática, pois ignora o fato de que o Brasil é, antes de mais nada, um país pobre. Temos o sexto maior PIB do planeta, conforme amplamente alardeado, mas com a quinta maior população e, por consequência, somente o 75º maior PIB per capita. Ou seja, ainda que toda a riqueza do país fosse distribuída igualmente entre cada um de seus habitantes (algo impossível, diga-se de passagem), o Brasil ainda seguiria sendo pobre. Países como Panamá, Botsuana, Gabão, Irã e Costa Rica seriam mais ricos do que nós.
Além disso, a ideia de que os ricos só o são às custas dos pobres é, em geral, equivocada. Excetuados casos em que a renda é obtida por meio do processo político (o chamado rent-seeking), só há uma maneira de enriquecer: oferecendo algo que outras pessoas queiram. Isso vale tanto para o atleta que chuta uma bola de maneira que agrade a seus torcedores quanto para o empresário que oferece um bem ou serviço que torne mais fácil a vida de seus consumidores. Se eu opto por dar meu dinheiro para um time de futebol em troca de duas horas de divertimento, é sinal de que eu valorizo mais esse serviço do que o preço pago por ele. Se não valorizasse, não teria pago. Se a troca é voluntária, as duas partes envolvidas saem ganhando (enriquecem), pois o mercado não é um jogo de soma zero com uma quantidade fixa de riqueza.
A insistência quase fetichista de alguns em se preocupar mais com a “desigualdade” do que propriamente com a pobreza leva a crer que sua motivação real passe mais pela inveja do que por uma genuína preocupação com o bem-estar dos mais pobres. A questão não é como vivem os mais ricos (desde que eles não estejam embolsando o dinheiro dos nossos impostos, claro), mas sim quais as condições dos mais pobres.
A pobreza (entendida como a carência de bens materiais essenciais dos quais depende o bem-estar humano) é um problema grave. Para amenizá-la, é essencial que esteja em vigor um sistema de incentivos que sinalize que aqueles que se saírem bem na tarefa de satisfazer às demandas/necessidades/vontades de seus semelhantes no mercado ganharão muito dinheiro. Isso ocorre somente onde há liberdade para investir, empreender e comerciar, tornando possível a criação de mais e mais riquezas, geradas e distribuídas no mercado conforme a preferência dos consumidores. O enorme êxito dessa estratégia nas sociedades onde a pobreza relativa (“menos ricos”) substituiu a pobreza absoluta como problema econômico-social é inconteste.
Ao longo da história da humanidade não foram poucas as vidas que tiveram seu potencial humano ceifado pela pobreza. Inúmeras pessoas morreram e ainda morrem por doenças resultantes de más condições nutricionais e sanitárias, quando não simplesmente por inanição. Não há, no entanto, qualquer registro de morte por “desigualdade social”…
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